Americanas, um escândalo de R$ 20 bilhões
Americanas, um escândalo de R$ 20 bilhões
Em época de forte incentivo para que a população invista na bolsa de valores, a noite desta última quarta-feira foi de cinzas para muitos investidores, que viram as ações das Americanas, rede varejista conhecida por grande parte da população brasileira, praticamente virar pó.
A companhia emitiu comunicado ao mercado sobre a existência de lançamentos contábeis não adequadamente refletidos em suas demonstrações financeiras e que originam dívidas junto a instituições financeiras. A inadequação tem valor: assustadores R$ 20 bilhões.
Desde então, as ações da companhia foram negociadas com perdas de praticamente 80% de seu valor, a maior queda diária de uma empresa de capital aberto no Brasil desde 2008. Algo natural quando seu recente ex-presidente admite deficiência na transparência dos números.
Não é de hoje que o varejo é desafiado no mercado brasileiro. Várias empresas já caminharam da euforia à queda, e no caminho inverso. Muitos são os fatores que trazem essa oscilação, mas quero aqui chamar a atenção para um específico: a credibilidade.
Não podemos tratar um rombo financeiro de tamanha magnitude como inconsistência. Este termo não é sinônimo de erro. Além de aniquilar a empresa, avassalou o patrimônio de investidores que nela acreditaram pelos números que os apresentava.
Mais ainda, é primordial compreender como algo com tamanha relevância passou despercebido ao longo dos anos pelos acionistas, conselho de administração, diretoria, instituições financeiras e, ainda que com a dor de cortar na própria pele, os auditores independentes, além de vários outros.
O mercado quer uma explicação. Ao contrário, por longos anos a credibilidade dos números apresentados pelas empresas estará em xeque. Essa é a realidade, e não podemos ignorá-la.
A ausência de transparência contábil já gerou outros escândalos. Este não pode ser apenas mais um, mas sim o divisor necessário para que, além de aprender a investir na bolsa de valores, a população compreenda a importância da contabilidade e os números que ela reporta, principalmente àqueles que aplicam o seu patrimônio nestas companhias.
Resta agora um trabalho árduo para apurar as circunstâncias que ocasionaram as “inconsistências” identificadas. O pontapé inicial foi dado com a formação de um Comitê Independente pelo Conselho de Administração da companhia.
Como auditores independentes, neste momento é necessário nos manter firmes na busca das melhores técnicas na detecção de distorções relevantes nos números das empresas, assegurando a todos que tem acesso às demonstrações financeiras auditadas, que é seguro investir em empresas e que há credibilidade nos relatórios que emitimos.
Cássius Rodrigues é auditor, CEO da Marol e Secretário da Comissão de Auditores Independentes do CRC Goiás
——-
Artigo publicado no Jornal O Popular.
GOIÂNIA, 14 e 15 de julho de 2023 – Ano 84 – Nº. 25.056/OPOPULAR.COM.BR